Até o amor precisa de altos e baixos

Quem bate no peito para dizer que relacionamento tem que ser bom 100% do tempo está muito equivocado. Não tem que ser e certamente não é. Tem que agregar, enriquecer, ter sentido de existir sim enquanto o status prevalecer, mas dizer que precisa necessariamente ser um conto de fadas permanente é uma ilusão das melhores. Toda relação é feita de fases. Às vezes uma etapa gostosa dura meses até que uma tempestade aponte no céu para abalar a solidez da estrutura. Tudo bem, a gente abre o guarda-chuva e segue adiante. O problema é “arregar” porque te venderam que parcerias devem ser sempre perfeitas.

Nós, como indivíduos em sociedade, não somos uma constante. Tem dias que o humor acorda de cão, a gente tem vontade de esganar aquele cara chato da academia ou briga por qualquer bobagem no trânsito. Como esperar o contrário dos nossos relacionamentos que envolvem não apenas o nosso estado de espírito, mas também do outro?! Passa três dias a lua muda e tudo entra nos eixos de novo. É tudo questão de paciência, tranquilidade e discernimento mecanismos aliás bem em falta nos amores dos dias de hoje.

Não estou defendendo relacionamentos desgastantes ou de alguma maneira abusivos, quero deixar bem claro. Mas, parcerias normais e saudáveis, distinto do que se pensa, tem brigas, discussões, descompassos, desajustes e constantes recomeços. Faz parte. Uma parcela do que é se envolver com outra pessoa está relacionada a se permitir amadurecer a dois e este é um processo que dificilmente é realizado dentro da nossa zona de conforto. Somos pessoas únicas convivendo com outras completamente diferentes. É preciso ser razoável para entender que nem tudo serão flores e que o jardim só floresce após o cultivo.

Sim, tem hora que cansa, tem fases que são mais demoradas, tem dias que a vontade de jogar tudo para o alto fala mais alto, porém com um pouquinho de serenidade, na maioria das vezes, tudo passa. Não é nada fácil, mas definitivamente pular de galho em galho em busca da sintonia ideal também não é a solução. Os problemas podem até não ser os mesmos o que não quer dizer que eles inexistam. Se os desacertos ultrapassam os limites daquilo que o casal pode superar a relação deve mesmo ser repensada. Agora, se existe a mínima chance de estarmos sendo exigentes demais devemos igualmente nos reavaliar.

Atingir o equilíbrio leva tempo. Paixão somente não sustenta toda a composição complexa que ergue um relacionamento. Conhecer um ao outro vai bem além de uma simples troca de olhares. Ao compartilhar desejos, anseios e receios ficamos ainda vulneráveis e se expor de tal maneira dá medo. O medo também cria barreiras de entendimento. Ter este tipo de cumplicidade e empatia é fundamental para que aí sim, de fato, os momentos bons sejam progressivos. Estar “por baixo” nem sempre é ruim, fortalece. E é maravilhoso poder olhar para o lado e não temer uma “fuga” unicamente porque um ponto saiu fora da curva. Que bom que existe o outro para reorientar o nosso caminho, que bom que mesmo perdidos a nossa bússola manteve o norte.